O bioma mais destruído do Brasil ganha uma nova chance com o avanço da agenda de restauração no país, mas ainda sofre com gargalos como a falta de sistematização de dados e de governança

DUDA MENEGASSI · TAÍS SEIBT · 18 de janeiro de 2022

Nos últimos cinco séculos, a Mata Atlântica foi explorada, ocupada e gradualmente exterminada. O bioma que se estende por quase todo o litoral brasileiro deu lugar a cidades que concentram 70% da população do país e o que resta hoje é apenas uma fração do que existia. A história mais recente tem sido menos cruel com a Mata Atlântica, devido à multiplicação de iniciativas e esforços voltados não apenas para proteger o que sobrou, mas para recuperar parte do que se perdeu. O caminho da restauração vai além da cobertura vegetal e significa também o retorno da fauna nativa.

Um levantamento recente feito pelo MapBiomas com base em imagens de satélite aponta que, em 2020, a cobertura florestal remanescente de Mata Atlântica era de 25,8%, cerca de um quarto do seu território original. Nos últimos 36 anos, o bioma perdeu 1,3% da sua cobertura original de florestas, uma taxa que revela que, apesar de desaquecido, o desmatamento ainda avança na Mata Atlântica. De acordo com o MapBiomas, entre 1985 e 2020, a perda de vegetação primária foi de 10 milhões de hectares. 

Em contrapartida, há áreas em que a floresta retomou seu espaço. A cobertura de florestas secundárias, aquelas em estágio inicial de regeneração, cresceu aproximadamente 9 milhões de hectares no mesmo período.

Os números quase equivalentes entre desmatamento e recuperação de vegetação não significam uma balança equilibrada, já que florestas maduras têm um valor ambiental insubstituível. Ainda assim, as iniciativas de restauração representam uma esperança de dias melhores para a Mata Atlântica.

Recuperar áreas naturais é considerada uma ação chave para combater e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, e uma estratégia fundamental para garantir a segurança hídrica e alimentar, além de outros serviços ecossistêmicos e da própria proteção à biodiversidade. Por isso, a década de 2021 a 2030 foi declarada pelas Nações Unidas como a Década da Restauração e colocou o tema oficialmente nas agendas de todos os países. 

O Brasil assumiu este compromisso em 2015, no Acordo de Paris, ao incluir – e ser o primeiro país a fazer isso – a restauração de 12 milhões de hectares de áreas naturais até 2030, “para múltiplos usos”, entre as metas da sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). O compromisso se estende a todos os biomas brasileiros.

Outros compromissos se sobrepõem a este, como o Desafio de Bonn, de escopo global, onde o Brasil se comprometeu com 22 milhões de hectares até 2030, e a Iniciativa 20×20, entre países da América Latina e Caribe, no qual a meta também é restaurar 22 milhões de hectares.
Assinado em 2015, na COP 21, por 195 países, tem como objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os efeitos das mudanças climáticas
Meta global que envolve 61 países e o compromisso de restaurar 350 milhões de hectares até 2030.
Pacto entre 18 países da América Latina e Caribe para proteger e restaurar 50 milhões de hectares de florestas, fazendas, pastos e outras paisagens até 2030.