É verdade que o caminho para a sustentabilidade do planeta ainda é longo e tortuoso. Mas, no que diz respeito à percepção da população brasileira sobre a gravidade das mudanças climáticas e dos seus efeitos, uma pesquisa recente realizada pelo IBOPE Inteligência confirma que estamos cientes sobre a realidade: 92% dos brasileiros e brasileiras, por exemplo, consideram que o aquecimento global está acontecendo e 77% entendem que a ação humana é a principal causa.

A pesquisa ouviu 2.600 pessoas, maiores de 18 anos, das cinco regiões do Brasil, entre os dias 24 de setembro a 18 de outubro de 2020, por telefone. E foi apresentada, na última semana, por um time de especialistas que analisaram seus resultados.

Marcos Astrini, do Observatório do Clima, enfatizou que a agenda ambiental está em um processo de avanço ainda em curso no Brasil e que, por isso, a temática não se converte em um cotidiano coerente com a percepção apontada pela pesquisa. Em resumo, o brasileiro é consciente, mas não pratica a sustentabilidade.

Uma luz no fim do túnel para essa virada de mindset pode estar em outra conclusão importante da pesquisa quando aproxima as consequências de um problema global aos nossos jovens e às nossas famílias. De acordo com o IBOPE, 88% dos brasileiros e brasileiras entendem que o aquecimento global pode prejudicar muito as próximas gerações e 72% compreendem que pode prejudicar muito suas famílias, sendo essa percepção mais alta entre a população preta (80%) – talvez um indicativo claro do maior grau de vulnerabilidade desta parcela da população por conta de condições socioeconômicas. 

Segundo Marcello Brito, da Coalizão Brasil Clima, Florestas, Agricultura, que também participou da apresentação e análise da pesquisa, há uma tendência mundial de aculturamento ambiental, ou seja, uma mudança cultural em prol do meio ambiente propiciada por ações crescentes de educação ambiental, mesmo se ainda muito distantes do desejável.

Mas Brito também lembrou que o fator renda é importante para que as pessoas escolham produtos sustentáveis, que tendem a ser mais caros. Segundo ele, o aculturamento ambiental, aliado ao componente de renda, pode ser uma combinação importante para pressionar o mercado a adotar práticas sustentáveis.  

De fato, não temos dúvidas de que educação e renda são componentes importantes para que as pessoas possam ser agentes de mudança, não apenas no cotidiano, mas também demandando práticas mais sustentáveis. Ou seja, precisamos buscar uma sociedade mais justa e igualitária, tanto para reduzir vulnerabilidades quanto para exigir mudanças de empresas e tomadores de decisão.

Vale consultar a pesquisa completa para conhecer também os dados sobre a opinião dos brasileiros acerca das queimadas na Amazônia.

Thiago Othero

Coordenador Técnico do Instituto Ekos Brasil 

(Matéria retirada da EKOS Brasil: clique aqui para acessar)