Por que as unidades de conservação geram prosperidade

No mundo de hoje, a noção de prosperidade em uma sociedade normalmente está associada à riqueza econômica. Ou seja, é muito comum associarmos períodos de crescimento econômico com períodos de prosperidade. No caso do Brasil, por exemplo, a busca pelo aumento do PIB (Produto Interno Bruto, que é uma medida da atividade econômica, a partir da soma de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um período determinado) tem se tornado por si só uma medida de prosperidade do país para muitos analistas econômicos.

O que a maioria das pessoas, inclusive políticos, negligenciam é o papel e importância que os recursos naturais e serviços ecossistêmicos têm para a atividade econômica e, por consequência, para a geração de riquezas que, se adequadamente distribuídas, podem gerar prosperidade para um número maior de pessoas.

As áreas naturais protegidas, que no Brasil tem nas unidades de conservação sua face mais evidente, cobrem aproximadamente 13% da superfície terrestre do planeta e em torno de 2% das áreas costeiras e marinhas do mundo. Elas têm importante função de conservar ambientes naturais e a biodiversidade associada, além de regular os fluxos de energia e matéria que circula em nosso planeta.

Contudo, ao contrário do que muitos setores da sociedade imaginam, as unidades de conservação não constituem espaços protegidos intocáveis onde qualquer tipo de uso ou aproveitamento dos recursos naturais e serviços ecossistêmicos não possa ocorrer. Elas fornecem direta ou indiretamente bens e serviços que estão presentes no dia-a-dia de cada um de nós: do ar que respiramos, da água que bebemos, da comida, fibras e combustíveis que usamos, só para dar alguns exemplos. As áreas protegidas provêm uma diversidade enorme de benefícios que têm relação direta com o bem estar humano e são consumidos pela sociedade.

É comum o pensamento de que investimentos feitos em conservação no Brasil não trazem qualquer benefício econômico para a sociedade. Ou ainda, que a política de criação de unidades de conservação representa um entrave ao desenvolvimento, visto que atividades produtivas são incompatíveis com a conservação. Este falso dilema demonstra bem a dificuldade que diversos setores da sociedade, sobretudo aqueles com maior influência sobre os tomadores de decisão, têm de capturar o papel e a importância das unidades de conservação como promotoras de desenvolvimento econômico e bem-estar social.

A literatura científica tem cada vez mais demonstrado a contribuição das unidades de conservação para a economia local, regional e nacional. Alguns números expressivos, apresentados por estudo coordenado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e o Ministério do Meio Ambiente, comprovam isso:

– cerca de 80% das fontes de geração de energia hidrelétrica no país encontram-se à jusante de unidades de conservação que são responsáveis por garantir água em quantidade e abundância necessária para o funcionamento dessas usinas;
– 10% da água usada para consumo humano é captada diretamente em unidades de conservação. Somando este percentual ao volume captado à jusante de alguma área protegida, pode-se afirmar que mais de um terço da água que bebemos em nossas cidades, depende diretamente da existência e proteção de unidades de conservação;
– até R$2.5 bilhões por ano podem ser gerados com a produção sustentável de madeira em unidades de conservação na Amazônia sem a necessidade de desmatar ilegalmente nenhum metro quadrado a mais de floresta.

Além disso, as unidades de conservação podem ser também um elemento essencial na infraestrutura geradora de trabalho e renda em diversas regiões, por meio dos negócios e atividades relacionados com o uso público das mesmas. O valor agregado às economias locais e regionais pelas oportunidades de turismo e recreação em parques e reservas naturais apresenta um enorme potencial de desenvolvimento. Estima-se que somente os 67 parques nacionais existentes hoje no país têm potencial para gerar entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões por ano. Exemplos como os dos parques nacionais da Tijuca, do Iguaçu e de Fernando de Noronha e dos parques estaduais de Ibitipoca e Rio Doce, para ficar apenas em alguns, corroboram com esta percepção.

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Nosso futuro depende de um planeta saudável que seja resiliente às mudanças climáticas inevitáveis que já estão em curso. As unidades de conservação efetivamente implementadas e o capital natural por elas protegido constituem nossa melhor apólice de seguro. Um Relatório do Banco Mundial estima que para cada dólar investido na prevenção de desastres naturais economiza-se sete dólares em perdas materiais causadas por tais desastres. A integração das unidades de conservação aos planos de desenvolvimento regionais e nacional são a chave para seu reconhecimento como ativos ambientais e não passivos ou obstáculos.

A crise no abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo, enchentes cada vez mais constantes nas áreas de baixada e os deslizamentos e desmoronamentos nas cidades localizadas em áreas montanhosas são sinais claros de um modelo de desenvolvimento que não enxerga os ecossistemas naturais e as áreas criadas para sua proteção como elementos essenciais da prosperidade. Unidades de conservação adequadamente implementadas e geridas, contando com os investimentos necessários e com o respaldo da sociedade, formam uma verdadeira rede de proteção e de prosperidade.

Agora que as eleições para presidente e governadores estão definidas e que novos governos se preparam para assumir em janeiro, é mais que oportuna a adoção de uma agenda positiva e pró-ativa para a gestão das unidades de conservação brasileiras. Direcionar e aplicar os recursos necessários, qualificar os gestores e adotar mecanismos eficientes e transparentes de gestão são requisitos mínimos para esta agenda.

A proteção do capital natural deixou de ser uma mera opção. Não podemos mais pensar em desenvolvimento versus conservação, homem versus natureza. Precisamos da natureza para prosperar e é imperativo que estejamos conscientes que as áreas protegidas são a ferramenta essencial para assegurar o desenvolvimento em bases sustentáveis, gerando sociedades saudáveis e bem-estar duradouro.

*Rodrigo Medeiros é biólogo, PhD em Geografia e Vice Presidente da CI-Brasil; Patrícia Baião é bióloga, PhD em Ecologia e Diretora de Política e Governança da CI-Brasil; Beto Mesquita é engenheiro florestal, Doutor em Ciências Ambientais e Florestais e Diretor de Estratégia Terrestre da CI-Brasil.

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